25 de março
Festa da Anunciação de Nossa Senhora
ANTIQUÍSSIMA é a festa que a Igreja celebra hoje, e tem o nome de Anunciação de Nossa Senhora pelo seguinte motivo: Estava no plano de Deus que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade salvasse o gênero humano, e para este fim tomasse a natureza humana. Tendo chegado o momento escolhido desde a eternidade, para a realização deste grande mistério, o Arcanjo S. Gabriel foi incumbido da missão de comunicá-lo a Maria, santa donzela, que residia em Nazaré, e era descendente de Davi. Foi o mesmo Arcanjo que, havia 400 anos, tinha anunciado a vinda e a morte do Messias ao profeta Daniel e, poucos meses atrás, comunicado ao sacerdote Zacarias o nascimento do Precursor. Maria, esposa de José, homem justo, também da casa de Davi, em virtude de um voto que havia feito a Deus, vivia com ele em perfeita e virginal castidade. Entre todas as mulheres do mundo, a SS. Trindade tinha escolhido esta para mãe do Messias prometido, e por este motivo, não resta dúvida, foi que a enriqueceu de tantos privilégios e graças, que em santidade a elevara acima de toda criatura humana. A Virgem, por Deus tão privilegiada, achava-se em oração, quando o Arcanjo entrou no aposento. Não é destituída de razão a opinião de Santos Padres, que supõem que o objeto da oração de Maria tivesse sido o que interessava vivamente a nação inteira: a vinda do Messias. O Arcanjo saudou-a com estas palavras: "Ave, Maria, cheia sois de graças, o Senhor é convosco; bendita sois entre as mulheres". Maria, ao ouvir esta saudação, assustou-se. O Arcanjo, porém, prosseguiu: Nada temais, Maria! Achastes graça diante de Deus. Eis que concebereis e dareis à luz um filho, e pôr-lhe-eis o nome de Jesus. Este será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai, Davi, e reinará eternamente na casa de Davi, e seu reinado não terá fim" (Lc. 1, 30).
O que se passou na alma da Santíssima Virgem, ao ouvir estas palavras, das quais cada uma encerra um mistério insondável, é mais fácil imaginar-se do que exprimir em palavras. Maria, tendo ouvido estas coisas, turbou-se e perguntou ao Arcanjo: "Como se fará isto pois eu não conheço homem?" Estas palavras não eram a expressão de uma dúvida, que a Santíssima Virgem tivesse do que o Arcanjo dissera: eram antes a linguagem da humildade que não podia supor que Deus a tivesse escolhido para tão alta dignidade; eram ainda o reflexo da perplexidade, por não saber como havia de conciliar a maternidade com a virgindade a Deus votada. São Gabriel esclareceu-a imediatamente sobre este ponto, mostrando-lhe que, ser mãe não lhe comprometeria o estado de virgem e disse: "O Espírito Santo virá sobre vós e a virtude do Altíssimo vos obumbrará. E por isso mesmo o Santo que há de nascer de vós, será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, vossa parenta concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês do que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível". (Lc. 1, 35).
Ao ouvir esta declaração, Maria Santíssima, com toda humildade, se sujeitou à vontade divina e disse: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo vossa palavra". No mesmo momento se realizou o grande mistério da Encarnação. O Verbo de Deus fez-se carne, o verdadeiro Filho de Deus tomou a natureza humana. A palavra de Maria significava para Deus a maior humilhação; para ela, porém, a elevação à mais alta dignidade. O Filho Unigênito de Deus fez-se homem; Maria Santíssima veio a ser Mãe de Deus, sem com isto perder a virgindade.
Os Santos Padres são unânimes em afirmar, que a Encarnação do Verbo de Deus é de todos os mistérios o maior, e nele todos os demais se encerram; é um mistério que transcende nossa compreensão, um mistério em que se refletem as mais altas perfeições de Deus, como sejam a sabedoria, caridade e misericórdia. Na Encarnação se revela a sabedoria divina, pois inteligência nenhuma, a não ser a divina poderia ter descoberto meio mais maravilhoso de estabelecer a paz entre Deus e a criatura; a Encarnação é a revelação da caridade e misericórdia divinas, porque outro princípio não teve, senão a infinita bondade de Deus para com os homens. O Padre Divino manda seu Filho Unigênito ao mundo, para que este tenha a salvação por amor. O Filho de Deus desce do céu, para salvar o mundo pelo amor. O Espírito Santo, o eterno amor, prepara aquele santo corpo, que será dado como vítima da salvação, "Tanto Deus amou o mundo".
No grande dia da Anunciação se realizaram os desejos, suspiros e profecias dos patriarcas e profecias do Antigo Testamento. "Céus, enviai o rócio do lato e vós, nuvens, o justo como chuva salutar; abra-se a terra e apareça o Senhor". (Is. 45, 8). — "Vinde, Senhor, não tardeis mais". — "Levantai-vos, Senhor, no vosso poder e vinde para nos salvar". (S. 17). Nestas e outras preces exprimiram os antigos o ardente desejo de ver o Messias. Hoje comemoramos a data em que o Filho de Deus desceu ao seio da Virgem Mãe; daqui a poucos meses o veremos reclinado na manjedoura e mais tarde o acharemos no altar da cruz para com o preço de seu sangue, resgatar o gênero humano.
Que gratidão não devemos à infinita bondade de Deus e à misericórdia divina! Os Anjos, segundo o testamento de S. Paulo (Hebr. 1, 6), no dia de hoje adoram o grandioso mistério da Encarnação, realizado nas puríssimas entranhas da Santíssima Virgem. Muito mais razão temos nós para fazer o mesmo, hoje e todos os dias da nossa existência. Esta homenagem, tão digna quão justa, podemos prestá-la na Santa Missa e no toque do "Angelus". Pronunciando as palavras: "e o Verbo se fez carne", o sacerdote dobra o joelho, em profunda adoração ao augusto mistério. O mesmo faz, quando recita as palavras do Credo: "E encarnou-se por obra do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria". Com este cerimonial a Igreja nos quer lembrar o grande mistério, que merece todo o nosso respeito, toda a nossa gratidão e todo o nosso amor. O toque do "Angelus" não tem outro fim, a não ser o de incutir-nos na memória o mistério fundamental da nossa santa religião, para que dele nunca nos esqueçamos e o veneremos todos os dias, com muito acatamento. Só os hereges, ímpios e maus católicos têm sorriso e escárnio para estas piedosas práticas, tão caras ao coração do fiel e tão agradáveis a Deus e a sua santa Mãe.
Maria, tão privilegiada por Deus, escolhida entre as demais mulheres, merece toda a veneração. É opinião de Santo Anselmo e de outros Santos Padres, que criatura alguma, em tempo algum, alcançou tão alta dignidade, como Maria Santíssima, tendo ela chegado a ser Mãe do Altíssimo. Como Mãe de Jesus Cristo, está acima de todos os Anjos e Santos do céu, que nela reconhecem e veneram sua gloriosa Rainha. Podemos negar nossa homenagem, respeito e amor a quem foi honrada, enaltecida e amada por Deus como Maria Santíssima? Como são ingratas, injustas e desapiedadas as seitas que nos querem negar este direito e colocar a augusta Mãe de Deus ao nível de simples criatura, cheia de miséria e pecado!
Como bons católicos, devemos ser filhos gratos e devotos de Maria Santíssima. No momento em que ela foi elevada à dignidade de Mãe de Deus, ficou sendo também nossa Mãe, porque, pela Encarnação, Jesus Cristo se dignou ser nosso irmão. Fazendo esta consideração Santo Anselmo escreve: "Se Jesus Cristo é irmão dos fiéis, há algum motivo para que sua Mãe não possa ser também nossa Mãe?" A ela pois devemos dirigir-nos, como filhos à Mãe, com amor, confiança e gratidão. Nunca se ouviu dizer que Maria tivesse abandonado aqueles que, confiantes, a invocaram nas necessidades.
Reflexões
O dia de hoje deve ser de grande alegria para todos os católicos, que se sentem felizes em ser filhos de Maria. Ser filho de Maria é grande honra para nós. Se Maria nos honra com seu amor e proteção, devemos honrá-la com uma vida santa e digna de cristão. "O Senhor é convosco", disse o Arcanjo a SS. Mãe de Deus. Oxalá o nosso Anjo possa dizer-nos as mesmas palavras: "O Senhor é contigo". Seria esta a maior satisfação que Maria, nossa Mãe, poderia ter, vendo-nos benditos do Senhor, protegidos, abençoados e queridos por Deus. Para que o nosso Anjo um dia nos possa apresentar a Maria Santíssima, na glória eterna, e dar-lhe a satisfação de abraçar-nos e estreitar-nos ao coração, como benditos do Senhor, imitemos as virtudes de nossa Santa Mãe, e procuremos ser verdadeiros servos e servas de Deus.
Santos, cuja memória é celebrada hoje:
Em Roma a festa de S. Quirino, que sofreu o martírio no tempo do imperador Cláudio. Seu corpo foi atirado ao Tibre. Suas relíquias passaram para Tegernese diocese de Ratisbona, onde existe uma fonte cujas águas milagrosas são empregadas contra moléstias da vista e do ouvido.
Em Nicomédia, na Ásia Menor, a memória de Santa Dula. Empregada de um alto militar pagão, foi morta por este em defesa de sua castidade, e por ser cristã. Santa Dula é padroeira das empregadas.
A Igreja de Jerusalém celebra hoje a memória do Bom Ladrão, a que a tradição deu o nome de S. Dimas. É padroeiro dos condenados à morte e dos carroceiros. É invocado em casos graves de impenitência e contra o perigo dos ladrões. Diz a tradição que, como chefe de uma quadrilha, era o terror de uma região, por onde a Sagrada Família passava na sua fuga para o Egito. A beleza de Nossa Senhora e do Menino Jesus de tal maneira o teriam comovido, que, desistindo do seu plano de roubá-los, lhes teria dado hospedagem em sua choupana. A arte cristã o apresenta crucificado ao lado direito de Jesus, com a diferença, porém, de o mostrar apenas amarrado com cordas, ao passo que Nosso Senhor foi pregado na cruz.
Extraído do Livro Na Luz Perpétua — Pe. João Batista Lehmann
I. Volume – V Edição - 1959.
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