21 de março
Patriarca dos Monges do Ocidente
( 543)

 S. BENTO o Patriarca de inúmeros religiosos, nasceu em Nursia, na Umbria, no ano de 480 aproximadamente. Era filho de pais ilustres que não pouparam sacrifícios para dar-lhe esmerada edu­cação. Contrário à inclinação natu­ral da idade, desde menino S. Ben­to mostrava aversão aos brinquedos infantis e amor declarado à oração.
Logo que o desenvolvimento es­piritual do menino o permitiu, levaram-no os pais a Roma, com o fim de encetar os estudos numa escola pública. O meio em que as circunstâncias o obrigaram a viver, não lhe agradou e receando o nau­frágio de sua inocência, em compa­nhia de tantos moços, que levavam vida repreensibilíssima, resolveu cortar todas as relações com o mun­do. Para pôr em seguro a salvação, abandonou Roma e retirou-se para um lugar ermo.
A aia, que lhe era muito dedica­da, acompanhou-o trinta milhas, até uma aldeia de nome Afila. S. Bento, subtraindo-se à vigilância da boa mulher, escondeu-se no ermo de Subiaco. Jovem de 15 anos apenas, encontrou-se São Bento com o eremita Romano, que lhe deu o hábito de monge, instruin­do-o sobre a vida regular e os respectivos deveres. Em seguida le­vou-o a uma gruta, bem retirada, na serra, desconhecida e de difícil acesso.
Foi esta gruta, chamada gruta santa, que S. Bento escolheu para morada. Romano prometeu-lhe a mais estrita reserva sobre o escon­derijo e também trazer-lhe a provisão necessária de mantimentos. Três anos passou São Bento naquela gruta, sem receber visita, a não ser de Romano. Deus, porém, querendo fazer brilhar a luz da santidade de seu servo, pôs a descoberta a existência do jovem eremita. Um sacerdote daquela região, estando a preparar a refeição, ouviu uma voz dizendo: “Es­tás preparando teu jantar, quando meu servo Bento mor­re de fome no deserto”. O ser­vo de Deus pôs-se a caminho, em procura do Santo e só su­perando inúmeras dificuldades o encontrou. Bento, admiradíssimo de receber visita, não quis conversar com o des­conhecido, senão depois de ter passado algum tempo com ele em oração. O sacerdote ofere­ceu-lhe em seguida comida e insistiu para que se alimen­tasse, pois não achava conve­niente o jejum em dia da Páscoa. S. Bento ignorava esta circunstância. Terminada a refeição, o sacerdote retirou- se. Tempos depois o paradeiro de S. Bento foi descoberto por pastores. Estes, vendo-o, jul­garam estar diante de um ani­mal feroz, engano causado pelas peles de animais, com que São Bento se cobria, e pelo fato inesperado de encontrar-se um ente humano nos rochedos de Subiaco, por todos classificados de inabitáveis.
Assim foi aos poucos conhecida a morada do Santo nos rochedos de Subiaco, em particular a gruta, que se tornou alvo da visita de muita gente, que lá ia para receber con­selho e conforto do santo eremita.
Quem julga ser o ermo lugar inacessível a tentações, engana-se. A gruta de Subiaco, tão afastada do bulício do mundo, foi teatro de lu­tas horríveis. O demônio, que per­seguiu o Divino Mestre até o deser­to, descobriu também o esconderijo de S. Bento, e tudo fez para demo­ver o Santo do caminho de Deus. Ora importunava-o com a aparição em forma de um pássaro preto; ora eram os jogos de fantasia, com que projetava diante da alma do jovem as imagens mais sedutoras da vida de Roma. A tentação era tão forte, que foi preciso Bento lu­tar com a máxima energia, para não deixar o ermo e voltar ao mun­do. Para extinguir o fogo da paixão e quebrar o aguilhão da tentação, São Bento revolvia-se em espinhos, conseguindo por estes meios extraordinários a vitória do espírito sobre a carne.
Devido à fama de santidade, foi enorme o número de pedidos dos que desejavam viver sob a direção do santo eremita. Após muitos ro­gos insistentes, aceitou a dignidade de Abade do Convento de Vivovaro. A disciplina daquele Conven­to, porém, estava tão corrompi­da, que São Bento se viu obrigado a proceder com bastante rigor, no in­tuito de reconduzir os monges rela­xados à observância fiel da regra. Formou-se entre os religiosos tão entranhada antipatia contra o san­to superior, que terminou por dege­nerar em ódio. Para livrar-se-lhe da vigilância, conceberam o plano si­nistro de matá-lo. Adicionaram for­te dose de veneno ao vinho, que ia ser apresentado a São Bento.
Quando este, porém, conforme o seu costume de benzer o alimen­to antes de o tomar, fez o sinal da cruz sobre a bebida, o copo partiu-se. Longe de se irritar com este fa­to, disse aos irmãos: “Deus vô-lo perdoe, meus irmãos. Tendes ago­ra a prova de que tive razão, quan­do, logo no princípio, vos disse que os meus costumes não combinavam com os vossos”.
São Bento abandonou o convento dos monges rebeldes e voltou para Subiaco. Lá o número dos discípulos crescia-lhe de dia para dia, de mo­do que, em poucos anos foi preciso fundar doze conventos. São Gregório fala de muitos milagres, que S. Bento fez na época da fundação dos mosteiros. As famílias mais no­bres de Roma, confiavam os filhos à direção do santo homem. Os San­tos Plácido e Mauro, ambos filhos de senadores de Roma, figuraram entre os primeiros educandos de S. Bento.
O inimigo de Cristo via com grande desgosto os progressos da nova Ordem, e não se descuidou de armar-lhe o laço. O instrumento de que se serviu, foi um mau sacerdote, vizinho de Subiaco. Florêncio, assim se chamava a infeliz criatura, espalhou horríveis calú­nias contra o Santo. S. Bento não teve outra resposta, senão o silên­cio. Receando que sua presença pudesse irritar ainda mais o mau gênio de Florêncio, saiu de Subiaco e fixou residência em Monte Cassi­no. Mal tinha saído de Subiaco, quando teve notícia da morte re­pentina do caluniador, soterrado nos escombros de uma casa.
No cume do Monte Cassino exis­tia um templo do deus Apolo e per­to do templo havia um bosque, con­sagrado à mesma divindade. Templo e bosque gozavam ainda de grande veneração. Vexado com este resto de paganismo, S. Bento come­çou a pregar o santo Evangelho. A pregação e os numerosos milagres que fazia, converteram muitas pes­soas. O templo foi derrubado e nas ruínas se ergueram dois conventos, sob a invocação de S. João Batista e S. Martinho. Tal é a origem do célebre mosteiro de Monte Cassino, fundado no ano de 529, quando S. Bento contava 49 anos de idade, sendo Justiniano imperador, Papa Felix IV, e rei da Itália Atalárico, chefe dos Godos.
S. Bento não possuía a ciência das coisas profanas; tanto mais versado era na ciência de Deus e da salvação. Em Monte Cassino es­creveu a admirável regra para a vida monástica. Nesta obra monu­mental S. Bento revela um profun­do conhecimento da alma humana e da ciência que a conduz ao ápice da perfeição. S. Gregório encanta­va-se com o espírito de sabedoria e modéstia desta regra e não hesitava em preconizá-la entre todas a pri­meira. A regra de São Bento foi adaptada por todos os monges do Ocidente e conservou-se por muito tempo como base da vida monásti­ca. Eis o que prescreve a dita re­gra: o silêncio, a oração, o trabalho, o recolhimento, a caridade frater­na e a obediência. São Bento cha­ma sua Ordem escola para apren­der servir a Deus. Ele mesmo mos­trou pelo exemplo a excelência da obra. Sendo superior da Ordem, era para todos os filhos o modelo de monge exemplar. Como outro Moisés, escolhido por Deus para condu­zir o povo eleito, de Deus recebeu o dom dos milagres e da profecia, para autenticar-lhe a alta missão. A natureza era-lhe sujeita e o segredo das coisas futuras desvendava-se-lhe ante os olhos. Na pre­sença de muito povo chamou a vi­da um noviço, cujo cadáver foi ti­rado dos escombros de um muro desmoronado. Predisse que o mos­teiro Monte Cassino seria profana­do e destruído, o que aconteceu no ano de 850, por ocasião da invasão dos Lombardos e na grande guerra mundial, em 1944.
Totila, rei dos Godos, quis provar o espírito profético do Santo, e or­denou a um dos oficiais, chamado Rigo, que se apresentasse a S. Ben­to em traje real e com a comitiva da corte. Rigo compareceu na pre­sença de S. Bento, o qual, vendo-o sem se levantar da cadeira, lhe dis­se: “Meu filho, tira a vestimenta que usas, porque não é tua”.
Totila, sabendo deste fato, foi ver o abade de Monte Cassino e admi­rou-se grandemente, vendo-se rece­bido pelo Santo com estas palavras: “Já praticaste muitos males e co­mo vejo, maiores ainda praticarás. Hás de tomar Roma, transpor o mar e reinar por espaço de nove anos. No décimo ano morrerás e comparecerás perante o tribunal de Deus, onde darás conta de tudo o que fizeste”. Esta profecia cumpriu-se em todos os detalhes. Totila as­sustou-se bastante com as palavras do santo Patriarca, a cujas orações se recomendou. Tendo tomado mais tarde Nápoles, tratou os prisionei­ros com uma caridade tal, que não se poderia esperar de um rei bár­baro.
É provável que S. Bento tenha morrido pouco depois de sua santa irmã Escolástica, e um ano depois da visita do rei Totila. Predisse a sua morte e seis dias antes mandou abrir a sepultura. No sexto dia da doença foi levado à Igreja, para receber os últimos sacramentos. De­pois de ter feito umas exortações aos religiosos, de pé, e as mãos elevadas ao céu, exalou o espírito, em 21 de março de 543, tendo a idade de 63 anos. Grande parte das relí­quias descansam no mosteiro de Monte Cassino hoje completamente restaurado. As outras foram trans­portadas para a abadia de Fleury, na França.

 REFLEXÕES

1.    Em muitas coisas podes imitar o santo exemplo do grande Patriarca. Se não te é dado viver, como ele, afastado do mundo, servindo a Deus na solidão, não te será difícil fazer do domingo um dia de recolhimento espiritual, dedican­do-te mais do que nos outros dias a práticas de piedade e caridade. Além de assistir à santa Missa, poderias fazer uma leitura espiritual, visitar um doen­te, fazer uma visita ao SS. Sacramen­to e examinar mais detidamente o es­tado de tua alma.
2.    A vida de S. Bento foi de penitên­cia rigorosa. Motivos deves ter para penitenciar-te também por teus pecados e firmar-te no propósito de abandonar a senda do pecado. A melhor penitên­cia é o fiel cumprimento dos deveres do estado, é aceitar e suportar com paciên­cia a cruz, que se apresenta em for­ma de contrariedades; é fazer oração, jejuar e dar esmolas aos necessitados.
3.    O zelo de S. Bento pelas almas poderás imitar pelo bom exemplo, que de­ves dar a teu próximo, principalmente às pessoas de tua família. Diz S. Paulo, que aquele que não se interessa pelo bem-estar das pessoas de sua convivên­cia íntima, é pior que pagão.
4.    Um olhar precipitado e impruden­te que S. Bento, moço ainda e quando no mundo lançou sobre uma pessoa do outro sexo, causou-lhe grandes tenta­ções; para debelá-las foi preciso casti­gar severamente o corpo e fazer dura penitência. Engana-se e está no cami­nho para o pecado, quem supõe poder dar toda a liberdade aos olhos. Job di­zia: “Eu fiz um pacto com os meus olhos, para que não fixassem culposamente sobre uma donzela”. Quem não põe um freio aos olhos, mais cedo ou mais tarde verá o inimigo, (a fera de que fala S. Pedro) em sua casa. Nesta matéria todo o cuidado é pouco. A concupiscência, a inclinação má da nossa natureza aos pecados carnais, é a ini­miga mais terrível que temos. Quem se meter a brincar com ela, tornar-se-á seu escravo; a queda será certa, certís­sima.

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Alexandria a memória de alguns már­tires. Reunidos nas suas igrejas na Sexta-Feira Santa, foram agredidos e mortos por arianos e pagãos; era imperador Constâncio e governador Filagoio.
Em Catânia, na Sicilia. S. Berilo, discí­pulo de S. Pedro, que o sagrou. Tendo convertido muitos pagãos, morreu em idade avançada.
Em Alexandria, S. Serapião, antes eremi­ta e depois Bispo de Tunis. Perseguido pelos arianos, morreu no exilio.
Em Lion, o abade S. Lupizino.

Extraído do Livro Na Luz Perpétua ­ — Pe. João Batista Lehmann
I. Volume – V Edição - 1959.
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